sábado, 24 de septiembre de 2016

CICOP en diario EL PAÍS (España) en su edición de Brasil 》"Os hospitais dos arredores de Buenos Aires em estado crítico" 》


EL PAÍS, Edición América, del sábado 24 de septiembre de 2016»
■Os hospitais dos arredores de Buenos Aires em estado crítico ■
▪Os médicos entram em greve contra os baixos salários e as más condições de trabalho▪
MAR CENTENERA
Avellaneda (Buenos Aires) 23 SET 2016 -
Pacientes atendidos nos corredores do hospital Lucio Meléndez de Adrogué.
Pacientes atendidos nos corredores do hospital Lucio Meléndez de Adrogué. JUANJO BRUZZA
Silêncio sepulcral. Faz um ano que não se ouve o choro de bebês na sala de Neotanologia do Hospital Pedro Fiorito de Avellaneda, na província de Buenos Aires. As cinco incubadoras estão desligadas da tomada, os berços vazios, os equipamentos mais sensíveis protegidos por plásticos. O departamento de Neonatologia fechou em outubro do ano passado por falta de pessoal: das sete pessoas que trabalhavam ali há dois anos, só sobraram três. A busca por especialistas que cubram as vagas é muito difícil. A oito quilômetros dali, na capital argentina, os médicos ganham quase o dobro. Os profissionais dos 79 hospitais públicos da província de Buenos Aires iniciaram na quinta-feira uma greve de 48 horas para exigir melhoras salariais. Entre as reivindicações também estão suas condições de trabalho.
"Entrei aqui há 16 anos. Naquela época havia médicos contratados, dois por turno. Havia residentes, havia médicos de fora. As pessoas que terminavam a residência, como eu, queria entrar em um hospital público. Com o tempo, elas foram se aposentando, saindo, pedindo demissão. Hoje, somos três", relatou Margarita Araya, neonatologista do hospital, um dia antes da greve. O salário de um médico que ingressa na saúde pública na província ronda os 15.000 pesos (cerca de 3.180 reais). "Ninguém vive com o salário de um hospital público. É preciso trabalhar em dois ou três lugares", continua Araya, que complementa sua renda com um emprego em uma clínica particular.
Margarita Araya na área de Neonatología do Fiorito, fechada.
Margarita Araya na área de Neonatología do Fiorito, fechada. JUANJO BRUZZA
Quando Araya chegou, o hospital realizava cerca de 2.300 partos por ano. Nos anos que precederam o fechamento do serviço, já eram apenas 1.200 e com uma complexidade muito inferior, porque só havia um especialista por turno. Agora, seu trabalho se limita a esperar se chega algum parto em estágio tão avançado que seja impossível enviar a gestante a outro hospital a tempo.
"Com os 15.000 pesos atuais, os trabalhadores não conseguem atingir a cesta básica, fixada em 20.000 pesos (4.235 reais). Essa política está esvaziando de funcionários o sistema público de saúde. Porque com os salários magros, a violência, a falta de insumos e as más condições das instalações, os profissionais migram para as instituições particulares", denuncia Fernando Corsiglia, presidente da Associação Sindical de Profissionais da Saúde da Província de Buenos Aires (CICOP).
A secretaria de saúde da província admite a necessidade de aumentar os salários dos funcionários dos hospitais, mas rejeitam a medida de força por considerar que há uma negociação em curso. "A greve ocorre em meio a uma disputa que está aberta", afirmou, por telefone, Leonardo Busso, diretor provincial de hospitais. "O salário é muito baixo. Estou de acordo com a queixa, mas o assunto é complicado", acrescenta ele, que explica que não se pode equiparar de um dia para o outro os salários da província com os da capital. Busso arremete contra a gestão kirchnerista por considerar que houve uma "falta de investimentos em saúde" e define como "muito ruins" as condições em que os médicos trabalham.
O Governo provincial, encabeçado pela governadora macrista María Eugenia Vidal, fez um diagnóstico desolador do sistema que ela encontrou ao assumir o cargo, em dezembro de 2015. "Cinquenta e três dos 79 hospitais precisam de reformas urgentes. Quatro deles precisam ser construídos novamente", diz Busso.
Os pacientes oncológicos do Meléndez aguardam sua vez na intempérie.
Os pacientes oncológicos do Meléndez aguardam sua vez na intempérie. JUANJO BRUZZA
Um desses quatro é o hospital Lucio Meléndez de Adrogué, a 23 quilômetros ao sul da capital argentina, com 114 anos de funcionamento. "Perigo! Não colocar pacientes sob a placa", diz um cartaz pendurado sobre o quadro elétrico em um dos corredores. A menos de um metro, uma mulher deitada em uma maca e com um soro intravenoso se recupera de uma diarreia, enquanto médicos, enfermeiros e pacientes passam para lá e para cá diante dela. Atrás, um jovem de 17 anos espera, em posição fetal, que uma sala de cirurgia seja liberada para que ele seja operado com urgência de uma apendicite. Os três consultórios do plantão de pediatria estão instalados no que antes era um corredor. Há pias quebradas, banheiros que precisam ser divididos entre pacientes e médicos, cabos expostos, ventiladores sem grade de proteção, goteiras e até o buraco que algum roedor deixou em uma das paredes, decorado com humor: "Jerry, sua casa".
Investimento em infraestruturas
O Executivo de Vidal elaborou um ambicioso plano de infraestruturas, que prevê um desembolso superior aos 3,5 bilhões de pesos (740 milhões de reais) entre este ano e o próximo para fazer mais de uma centena de obras nos hospitais. A chefe de Emergências do hospital Meléndez, Virginia Vallejos, se mostra cautelosa com o anúncio. "Mais do que palavras, precisamos de ações", diz. Funcionária do local desde 1980, ela recorda que um ministro da Saúde — que ela evita identificar — prometeu-lhe certa vez que em seis meses estariam cortando a fita de uma nova ala. A promessa nunca se concretizou.
O tomógrafo está instalado em um edifício anexo ao estacionamento do hospital. Quando chove, os pacientes — que costumam ser transportados em macas ou cadeiras de rodas — precisam ser protegidos por um guarda-chuva no trajeto entre o hospital e a sala de tomografia. A pouco metros está a sala de espera da Oncologia, também sob a intempérie, na qual aguardam os pacientes que fazem quimioterapia.
"TODOS DEPENDEMOS DO BOM FUNCIONAMENTO DO SISTEMA PÚBLICO"
Apesar dos problemas, os médicos defendem a saúde pública argentina e pedem o compromisso de toda a população com este sistema gratuito e aberto a todos. "Os hospitais públicos atendem o setor mais vulnerável, mas também qualquer pessoa que sofra um acidente na estrada ou passe pela esquina e algo lhe aconteça. É o primeiro lugar de atendimento, onde se salvam vidas. Se dispararem um tiro contra mim, quero que me atendam no Fiorito", diz Aníbal Aristazabal, médico no hospital Fiorito. "Todos nós dependemos do bom funcionamento do sistema estatal de saúde."
"No setor privado há lugares onde te pagam um plus por parto, um plus para colocarem um respirador, um plus por internação, e são feitas cesarianas desnecessárias. Há pessoas que fazem coisas da maneira adequada, mas outras, não", denuncia Margarita Araya, também do Fiorito. "No hospital público se faz o que o paciente necessita", enfatiza a neonatologista.
Embora alguns pacientes percam a paciência e haja casos extremos de agressões verbais e físicas, a maioria se conforma diante das longas esperas ou das más condições nas unidades. "O atendimento é muito bom, o importante é que te vão operar dentro de algumas horas", diz Marcela Rodríguez com a mão agarrada à de seu filho, que está sem dormir nem comer desde a noite de quarta-feira, à espera de uma cirurgia de urgência. "Os médicos são muito bons. Fui operado quatro vezes em dois meses", explica Gregorio Ruiz, um paciente diabético que aguarda uma reavaliação de sua perna amputada no Fiorito. Seu caso é um exemplo do fracasso da prevenção, opina Aristazabal. "O diagnóstico de diabete muitas vezes chega tarde, quando só resta operar", afirma.
No início, Vallejos integrava a equipe de terapia intensiva. Havia cinco camas, as mesmas que há hoje, apesar de que Androgué cresceu muito e sua população se aproxima dos 30.000 habitantes. Em outros hospitais houve até um retrocesso. Segundo o diagnóstico oficial, perderam-se 636 camas na província por falta de investimento e calcula-se que faltam 2.100 profissionais apenas para recuperá-las.
O médico clínico Aníbal Aristazabal, do Fiorito, compara a evolução dos hospitais públicos com a das estrelas. Acredita que nos anos 80 eram gigantes vermelhas, agora são anãs brancas e "estão a caminho de se tornarem buracos negros". Como todos os outros, confia em que seu prognóstico falhe e desta vez as promessas sejam cumpridas.

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